O empresário Wagner Miguel de Araújo Galvão, envolvido na morte da turista goiana Maria Marques Cordeiro no dia 15 de janeiro,, foi indiciado por homicídio culposo - quando não há intenção de matar. O inquérito foi finalizado pela delegacia de Ceará-Mirim e já foi repassado para a comarca da cidade. O promotor do Ministério Público, Paulo Batista Neto, irá analisar a investigação e oferecer denúncia, podendo ou não alterar artigos em que Wagner foi enquadrado.
O laudo da Capitania dos Portos não constatou rompimento da corda em que o jet ski levava uma bóia e classificou como "negligente" a atitude do piloto por estar próximo aos banhistas. Apesar disso, o delegado titular de Ceará-Mirim, Getúlio Torres, disse não ter visto elementos para responsabilizar Wagner pelo crime.
"Não encontrei como justificar um homicídio doloso ou o dolo eventual. Ele foi indiciado nos artigos 121, 3º inciso [homicídio culposo] e 70 [quando se pratica mais de um crime em uma só ação]", afirmou Getúlio.
O fato de Wagner ser habilitado para conduzir aquele tipo de veículo e por ter prestado socorro à vítima contribuíram para a decisão do delegado. "O laudo da capitania mostrou que a corda não quebrou nem desamarrou. Assim como ressaltou que ele navegou próximo aos banhistas", contou Getúlio.
O rompimento da corda que ligava uma bóia ao jet ski foi considerado no inquérito, pois poderia esclarecer a distância do veículo aos banhistas e a responsabilidade do condutor.
A partir de agora, cabe ao Ministério Público Estadual (MPE/RN) analisar o inquérito e oferecer ou não denúncia sobre o caso. O promotor Paulo Batista Neto, da 3ª Promotoria do MP em Ceará-Mirim, será o responsável pela análise. Ele pode, até mesmo, alterar os artigos do código penal em que Wagner foi incluído.
O inquérito policial sobre o acidente náutico que matou a turista Maria Marques Cordeiros, de 47 anos, na Lagoa da Cotia, em Rio do Fogo, está próximo de ser finalizado. O delegado Getúlio Torres, que comanda a investigação, informou que a última testemunha já foi ouvida e que, assim que receber o relatório da Capitania dos Portos, vai finalizar a investigação.
A última testemunha a ser ouvida por Getúlio Torres foi o homem que estava na boia puxada pelo jet ski, que se chocou com a vítima no dia 15 de janeiro, durante uma brincadeira na Lagoa da Cotia. O homem, identificado como Alexandre, disse que desmaiou no momento em que bateu com a cabeça contra a turista goiana e só acordou no Walfredo Gurgel, onde foi atendido. Ele também disse que não teve mais contato com o piloto do jet ski, Wagner Miguel de Araújo Galvão, depois do acidente.
"Ele confirmou que estava andando muito perto dos banhistas. A história é a mesma que já foi dita e acreditamos que a corda que puxava a boia não desatrelou ou quebrou na hora do acidente", disse o delegado Getúlio Torres.
O prazo para a conclusão do inquérito é o dia 15 de fevereiro e o delegado garantiu que o prazo será suficiente para entregar o resultado da investigação.
Delegado ouve principal testemunha do acidente
O delegado Getúlio Jorge Torres colheu na sexta-feira (13) o depoimento de uma das principais testemunhas do acidente que ocorreu no fim de semana na Lagoa da Cotia, em Rio do Fogo onde a turista goiana Maria Marques Cordeiro, 47, faleceu após ter sido atingida por um boia que estava sendo puxada por um jet ski pilotado por Wagner Miguel de Araújo Galvão.
A técnica em enfermagem Maria Edvânia Bezerra de Medeiros, 29 foi ouvida na Delegacia de Ceará-Mirim e contou que, por pouco, também não foi vítima do acidente. Edvânia estava na lagoa com Maria e observou todas as manobras de Wagner.
Em entrevista a TRIBUNA DO NORTE a testemunha contou detalhes do acidente: "Ele deu várias voltas com o jet ski e ia puxando a boia. Em uma das voltas o homem que estava em cima da boia caiu perto da gente e nos convidou para dar uma volta. Eu não quis".
Edvânia contou que outro banhista decidiu aceitar o convite. "O piloto do jet ski (Wagner) dava voltas e mais voltas e o homem não caia da boia. O jet ski passou bem próximo da gente e foi assim seguidas vezes, até que em um momento não vi a boia. Tive um reflexo e me abaixei. Maria foi atingida e eu quase fui também".
Torres que preside o inquérito policial de número 002/2011 que apura o acidente provocado por Wagner afirmou que ainda vai realizar várias diligências para dirimir algumas dúvidas, porém, o delegado já sabe que a versão contada pelo acusado de que a corda da bóia se rompeu causando o acidente não é verdadeira. "Nem rompeu e nem desamarrou. Continuou sendo puxado pelo jet ski depois do acidente. Ele (Wagner) se aproximou muito dos banhistas erroneamente".
Para Getúlio Torres, Wagner foi imprudente. "Tudo leva a crer que foi uma atitude irresponsável", enfatizou o delegado que houve hoje pela manhã o marido de Edvânia e Wagner que irá prestar novo depoimento. No final da tarde de ontem, no cemitério Jardim da Paz, em Goiânia (GO), Maria Marques foi sepultada.
A família de Maria está abalada. A turista que havia chegado em Natal no dia 04 de janeiro veio junto com a irmã e os sobrinhos passar 20 dias no Rio Grande do Norte. O objetivo dos familiares era o de esquecer um pouco do sofrimento. Há poucos meses, a mãe de Maria havia falecido e todos estavam muito triste. Rosicler Leão é irmã de Maria Marques. "Decidimos viajar para Natal para nos divertir. Maria estava muito triste com a morte da nossa mãe e achamos que ela iria se sentir bem em outra cidade. Minha irmã morreu no mesmo dia em que completou quatro meses da morte da nossa mãe", lembrou a mulher. Muito triste, Rosicler desabafou: "Wagner acabou com a nossas férias, com a nossa alegria, com a nossa família. Ele foi muito irresponsável e por pouco não matou outras pessoas também. A Capitania dos Portos deve fazer uma fiscalização séria nas lagoas do Estado".
Rosicler afirmou que estava presente no momento em que a irmã foi atingida pela boia. "Ele (Wagner), em depoimento, disse que a corda que prendia a boia ao jet ski se rompeu, mas isso não é verdade. Ele que se aproximou muito dos banhistas. O acidente causou um buraco na cabeça da Maria". Por fim, a irmã da vítima agradeceu: "O Rio Grande do Norte é um lugar lindo e as pessoas são acolhedoras. Quero agradecer um homem (ela não sabe o nome) que socorreu minha irmã. Embora ela tenha morrido à caminho do hospital, a atitude dele foi exemplar".