Depois da enchente, a seca. Dois anos após as inundações que devastaram as plantações de jerimum do Vale do Punaú, distrito do município de Rio do Fogo, distante 70 quilômetros de Natal, desta vez é a falta de chuvas que reduz, mais que pela metade, a produção do fruto/legume. Em 2011, o transbordamento do rio Punaú provocou a perda de 80% da safra, estimada em 4 mil toneladas. Este ano, a expectativa é que seja produzido, em 343 hectares plantados, algo em torno de 1/3 do montante colhido no ano passado, que foi de 4,2 mil toneladas.
"Se engana quem imagina que a seca só atinge o sertão do Rio Grande do Norte. A queda na produção de jerimum no Vale do Punaú foi causada pela seca, que prejudicou bastante nossa safra este ano", afirma o presidente da Associação dos Produtores de Jerimum do Vale do Punaú, João Batista Bandeira Gomes. Além da estiagem, pragas como a mosca-branca e o "purgão", dizimam ainda mais as plantações. "Tudo isto reflete na qualidade do produto. E baixa qualidade é baixo preço", relembra João Batista.
No início da colheita, em dezembro de 2012, a unidade do jerimum foi vendida por até R$ 0,25. Tal valor corresponde a uma perda de até 75% do custo cobrado atualmente, que é de R$ 1,00. Ressabiados com os prejuízos acumulados desde as enchentes consecutivas, cuja maior devastação foi registrada em 2011, os 30 produtores inscritos na Associação não contraíram mais empréstimos ou adquiriram máquinas para empregar nas plantações, somente compraram agrotóxicos para combater as pragas comuns na região.
De longe, os pés de jerimum parecem sadios e exuberantes. De perto, porém, é possível visualizar que o fruto/legume cresce travando uma batalha, muitas vezes mortal, com as pragas que o acometem. Somente em uma das áreas plantadas, a fusão da falta de chuvas com a "peste do purgão" provocou a perda de 20 toneladas do que foi plantado no final de 2012. O representante dos produtores, João Batista Bandeira Gomes reclama do descaso do Governo do Estado.
"O governo virou as costas para o produtor rural. Nós não temos nenhum tipo de apoio", afirma. João Batista relembra os problemas herdados da maior enchente do rio Punaú, ocorrida há dois anos, cujas ações para redução dos danos imediatos e prevenção, jamais saíram do papel. "Desde 2011, nada foi resolvido. Os secretários estaduais de Agricultura e Recursos Hídricos estiveram conosco, ouviram nossos pedidos e nada fizeram", lamenta.
Além das reuniões das quais participaram representantes dos produtores e moradores das áreas atingidas pela enchente no Vale do Punaú, os agricultores encaminharam ofícios à governadora Rosalba Ciarlini e ao então secretário estadual de Recursos Hídricos e vice-governador, Robinson Faria. Nos dois documentos, solicitavam a dragagem do rio Punaú. O céu cinzento que, nos períodos de seca é um alento ao produtor rural, é visto com esperança e medo pelos plantadores do vale do Punaú.
A cada chuva, como a que caiu no início da manhã da sexta-feira, 15, no litoral oriental potiguar, os agricultores relembram os dias vividos em janeiro de 2011, quando perderam quase tudo o que plantaram quando o rio transbordou. "Nem mesmo os R$ 12.600,00 prometidos pelo governo, ainda em 2011, para limpeza manual do leito do rio, foi entregue. Não há sinal de melhoria. O governo é omisso", assevera João Batista.
Fonte: Tribuna do Norte