Genebra (AE) - Pela primeira vez em quase 30 anos da Aids, os números de novas contaminações começam a cair, assim como o de mortes, indicando que o pico da epidemia teria sido superado. No total, 56 países conseguiram estabilizar a doença ou até reverter a tendência, com uma queda da incidência do vírus. Mas nada disso significa que a guerra foi vencida. A falta de recursos pode agora ameaçar esses avanços e 10 milhões de pessoas com Aids ainda não têm acesso aos remédios. Sem novos recursos, os 5 milhões hoje com acesso aos medicamentos também poderão ficar sem.
Os dados foram publicados ontem pela Organização das Nações Unidas (ONU) e comemorados em todo o mundo como o primeiro sinal real de que os esforços bilionários dos últimos anos começam a surtir efeitos. “Pela primeira vez, podemos dizer que estamos quebrando a trajetória da Aids. Freamos a epidemia e começamos a revertê-la. Um número menor de pessoas está sendo infectado e um número menor está morrendo”, afirmou o diretor-executivo da UnAids, Michel Sidibé.
Porém, as estimativas ainda são alarmantes: 33,3 milhões de pessoas estão contaminadas em todo o mundo e não há qualquer referência ao fato de que a epidemia estaria terminando, nem nos países ricos. A região mais afetada pela doença é a África, onde estão 60% dos novos casos - foram 1,3 milhão de mortes em 2009 e 1,8 milhão de novas infecções. Desde a década de 1980, mais de 60 milhões de pessoas já foram infectadas no mundo, sendo que 30 milhões morreram.
O que se comemora agora é que o número de 2009 é um pouco inferior aos 33,4 milhões de pessoas infectadas em 2008. Nos últimos dez anos, o número de novas infecções ainda caiu em 20%. Em 1999, 3,1 milhões de novos casos foram detectados. Hoje, são 2,6 milhões por ano. Entre os jovens dos países pobres, a queda é de 25% diante do uso cada vez mais frequente de preservativos.
Nos últimos cinco anos, as mortes pela Aids caíram em 20%, de 2,1 milhões em 2004 para 1,8 milhão em 2009. Na Etiópia, Zâmbia, Zimbábue e África do Sul, a queda na taxa de infecções é de mais de 25%. Outro avanço é a redução no número de crianças que nascem já com o vírus HIV. A queda em cinco anos foi de 24%. Na África, a redução foi de 32%. “Podemos chegar a ter uma situação em que não nascerão mais crianças com Aids”, disse Sidibé.
Por enquanto, apenas 5 milhões de pessoas têm acesso a remédios, um terço dos que precisariam. Mas o número de pessoas recebendo tratamento começa a subir. Em 2004, eram apenas 700 mil os beneficiados, dos quais um terço estava no Brasil. Em 2007, para cada duas pessoas que começavam a receber o tratamento, cinco eram contaminadas. Hoje, para cada pessoa que recebe o tratamento, duas são contaminadas.
Os dados, porém, estão longe de indicar que a guerra foi vencida e revelam desafios amplos. “Não podemos declarar que vencemos”, disse Sidibe. “Na realidade, estou com muito medo do que vai ocorrer. Pela primeira vez em quase 30 anos, vimos uma queda no dinheiro destinado ao combate à Aids em 2010”, disse. “Pessoas vão simplesmente morrer sem esse dinheiro “ A estimativa é de que o mundo precise de US$ 25 bilhões por ano para lidar com a Aids. Em 2009, existiam disponíveis US$ 15,9 bilhões. Na ONU, as contribuições caíram de US$ 7,7 bilhões em 2009 para US$ 7,6 bilhões.
Só os europeus deixaram de dar mais de US$ 700 milhões diante da crise econômica que enfrentam. A Itália suspendeu todas as doações.
Menos de 50% dos brasileiros usa camisinha
Genebra (AE) - Apenas quatro em cada dez brasileiros usam preservativos em suas relações sexuais e metade dos brasileiros sequer sabe se está ou não contaminado pelo vírus da Aids. Os dados publicados ontem pela UnAids mostram que, se o Brasil é um dos países considerados como exemplo na luta contra a doença, existem problemas ainda na estratégia da prevenção.
Hoje, o Brasil destina menos de 10% de seu orçamento para a prevenção da doença. No total, o governo gastou US$ 623 milhões no programa de Aids em 2008 e o País é um dos três emergentes que mais destinou recursos ao setor. Mas apenas US$ 41 milhões foram para a prevenção. O resto foi todo para a compra de remédios.
Segundo o levantamento, apenas 43% dos homens brasileiros dizem usar preservativos, instrumentos que a UnAids considera como “a maneira mais eficiente” de frear a doença. A taxa é bem inferior a de muitos países africanos, europeus e latino-americanos.
O governo federal estima que o número deve ser olhado com outro prisma. Entre os jovens de 15 a 19 anos, a taxa de uso de preservativos é de 76%. Mas ela cai para apenas um a cada três homens entre 25 e 49 anos.
A importância do preservativo fica mais evidente diante dos resultados das pesquisas no Brasil: 41% dos jovens entrevistados começaram a vida sexual com menos de 15 anos de idade. Entre as meninas, a taxa é de 29%.
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